quarta-feira, 24 de outubro de 2007

pedrinha n'água

(um quase-poema, interrompido pela razão e seu péssimo hábito de ficar discutindo, questionando, tentando entender tudo, sistematizar, prever, explicar...)


uma pedrinha n'água
produz ondas
concêntricas
centrífugas
perfeitamente circulares

estas ondas se expandem
outras nascem
do centro exato do círculo
o espaço do oceano
parece mesmo ilimitado

quantas ondas cabem no mar?
e quantas pessoas
cabem no mundo?
e o que acontece quando
não cabem mais?

será que um dia
(no final dos tempos?)
todas as ondas
voltando ao centro
devolverão todas as pedras?

será que o tempo tem um final?

Fico pensando que, no final, o tempo pode se rebobinar, como uma fita de vídeo, lentamente (pois o tempo não há de ter pressa) as coisas todas desacontecendo.

E depois, na re-volta, reacontecendo... (da mesma forma??)

uma onda de tempo
indo e vindo
um meta-tempo
tempo além do tempo

De algum lugar uma resposta: "E quem disse que não é agora que as coisas desacontecem? quem disse que as pedrinhas não caíram do mar para cá e agora estão voltando para o lugar de onde vieram?"

Ora, ora... (respondo, com um certo enfado) se estivessem voltando, as ondas correriam PARA DENTRO, para empurrar as pedrinhas de volta! Não correriam para fora, não é?

"Será?"

Mas não é evidente?
(Tento ser didático, às vezes é preciso explicar.)
Para expulsar a pedra, a água teria que empurrá-la, num movimento de fora para dentro, portanto as ondas teriam que mostrar um movimento correspondente, de fora pra dentro, cen-trí-pe-to.

(Na sensação arrogante de triunfo, mal percebo o golpe de misericórdia se aproximando.)

"...e que tipo de onda aparece quando se TIRA uma pedra da água?"

*CLICK*

***

6 comentários:

  1. de algum lugar, algumas perguntas.
    de algum tempo algumas respostas?

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  2. quando se tira uma palavra de um poema, ou quando se coloca, o poema muda. quando se atira um poema no mar, o mar explode

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  3. Eu vim atirar uma pedrinha na sua água: passe no sem,enteira que tem um "meme" pra vc! bj

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  4. Mas que garante que ondas correndo para dentro nao seria o sentido correto e ondas para fora seria descontecer?

    Como podemos garantir que a nossa lógica que é a lógica...
    De qualquer modo gostei da sua

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  5. Caramba!! Se conhecesse este teu texto, teria colocado-o como epígrafe de três contos de céu baixo. É borgeano, meu jovem. Nós não o inventamos, mas isso nunca foi problema.

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