domingo, 22 de junho de 2008

A Vítima

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— ...a repórter Paloma Bernardo traz mais informações do local. Paloma, é com você.

— Wesley, estamos em frente à residência da família Prudente Feitosa, esperando a chegada de Carlotta Prudente Feitosa, libertada hoje após quatro semanas em cativeiro. Há muito movimento, repórteres, viaturas da polícia e curiosos que esperam ver a sobrinha do senador Prudente Feitosa, seqüestrada há vinte e sete dias. O contato com a família só foi feito dez dias depois. As negociações aconteceram em segredo. A família proibiu a interferência da polícia e da imprensa, aparentemente seguindo determinação dos seqüestradores. Fontes familiares dizem que houve polêmica quanto ao pagamento do resgate milionário. O valor exato é desconhecido, assim como a origem do dinheiro. Segundo informações, o dinheiro foi entregue ontem à noite. Carlotta foi libertada na madrugada de hoje e foi levada à delegacia de seqüestros pela polícia militar. Ela saiu de lá há pouco, acompanhada de familiares. Estão chegando. Vêm escoltados pela polícia. O senador está saindo do carro. Aparecem outros familiares. Finalmente, Carlotta, de óculos escuros, desce do carro. É improvável que faça alguma declaração neste momento. Parece desorientada e é amparada pelo pai. Acena para a multidão e caminha para a casa. A mãe abre a porta, chorando. É emocionante! As duas se abraçam e entram. O senador está se aproximando, talvez faça alguma declaração.

— Senador, como está sua sobrinha após ser vítima deste seqüestro?

— Está abalada, pobrezinha... Esta brutalidade não tem tamanho! Todos nós fomos vítimas! Estamos todos reféns destes bárbaros! Não há segurança com este governo inoperante e incompetente. Vítima é quem paga resgate. Nós fomos roubados! Ela foi apenas refém! Eu que fui a vítima!! É vergonhoso um senador da república ser roubado assim! Eu que fui a vítima!...

— Voltamos ao estúdio para outras informações.
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domingo, 15 de junho de 2008

Um Sólido*

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Multifacetado
quase esférico
po-li-é-dri-co

as inúmeras faces, como espelhos
multiplicam, deformam, aumentam

em todas
o reflexo

desta

confortável

solidão


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* publicado no "Sindicato dos Escritores Baratos" em 10.jan.2008

sábado, 14 de junho de 2008

até a uva passa


. . . . . . . .
fora de estação
. . . . . . . . o sabor da fruta
. . . . . . . . só que não.

quatrestações senhuma


vento
folhas
árvores magras
seca
frio
chuva
verde
flores
vento
pólen
e tudo que não verão