domingo, 25 de outubro de 2009

QUEM???

- Alô.
- Alô, quem está falando?
- Com quem a senhora quer falar?
- Quem está falando?
- Fernando? aqui não tem nenhum Fernando, não senhora.
- EU QUERO SABER QUEM ESTÁ FALANDO!!!
- Ah, sou eu, o Jesuíno.
- Escuta, Jesuíno, a Beth está?
- Quem? Anete?
- NÃO, A BETH, BÉÉ-TEE!!
- Ah, não tá, não. A senhora quer deixar recado?
- Tá, diz a ela que a Márcia ligou. Eu ligo de novo depois.
- Quem? Ivone? É para ela ligar?
- NÃO! MÁÁRCIAAA...
- Ah, tá certo, dona Ivone, eu digo, sim. Bom dia pra senhora.
- NÃO!!! NÃO É IVONE, É MÁR...
- tuuu... tuuu... tuuu...


"Beth, a Márcia ligou. Um beijo, Carlos"
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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

anotações para um dicionário improvável (5)

loucura (s.f.) :
  1. Estado de lucidez extrema, em que um indivíduo passa a ser um risco para a sua própria convivência social;
  2. Em termos relativos, tudo aquilo com que um indivíduo auto-denominado como "normal" considera inaceitável no convívio social; paradoxalmente, inclui uma série de atitudes, valores e fatos de foro íntimo (mas sempre alheios);
  3. Justificativa de caráter político-moralista, coberta com um véu de preocupação com a saúde, para se afastarem indivíduos perfeitamente lúcidos do convívio social;
  4. Estado em que se postula que um indivíduo se torna um perigo a si mesmo.
louco (s.m.): Indivíduo portador de loucura. fem.: louca.
obs. alguns loucos se dão bem na política, mas estes são verdadeiramente doentes e perigosos.

louco (adj. m.) fem.: louca:
  1. diz- se de ato relacionado à loucura ou atribuído a esta em suas cauas ou consequências;
  2. interessante, curioso, lúcido iluminador de idéias, causador de insights.
louco manso: diz-se do indivíduo que, sendo excessivamente lúcido para seu próprio bem (ver loucura) não representa perigo senão a si mesmo. Podem serclassificados em dois extremos, a saber: o louco manso melancólico e o louco manso cínico, embora a maioria dos indivíduos nesta condição se encontre em algum ponto entre estes dois extremos e possa transitar, ao longo do tempo, entre eles.

louco manso melancólico é aquele que desistiu de tentar mostrar às outras pessoas a loucura do mundo, e se fecha em sua lucidez, como em um calabouço escuro e triste. Apresentam olhos baços de tristeza e até seu sorriso é triste. É pouco perigoso e o é muito mais para si mesmo do que para a sociedade, podendo até mesmo ser adotado sem perigo por famílias caridosas, para companhia ou pequenos serviços, sem grande perigo. Suas idéias raramente contagiam.

louco manso cínico (ou irônico), é aquele que, após desistir de tentar mostrar a luz aos não-lúcidos, decide usar a luz para o seu próprio bem ou para o bem da humanidade. Olha para o mundo com misericórdia e comiseração, compungido verdadeiramente pela patética condição dos que não vêem o óbvio. Tem a capacidade de, em muitas situações, esconder o próprio sofrimento e solidão com uma capa de humor e socialidade. Sua loucura pode ser contagiosa e pode tornar-se um grande perigo para a sociedade e para si mesmo. Frequentemente são tornados mártires, canonizados ou divinificados, dando então origem a seitas, agremiações e outros movimentos políticos, religiosos, etc. cujos patronos, em vida, seguramente combateriam com fervor. Este paradoxo é a ironia final da loucura cínica.
Seguidores de seitas assim formadas podem obter destaque como sacerdotes, profetas, ou na política (ver obs. em louco, s.m.).